Recomendações
* Não há quem não tenha experimentado alguma vez um comportamento
compulsivo, mas se ele se repete a ponto de prejudicar a execução de tarefas
rotineiras, a pessoa pode ser portadora de transtorno obsessivo compulsivo e
precisa de tratamento;
* Crianças podem obedecer a certos rituais, o que é absolutamente normal. No
entanto, deve chamar a atenção dos pais a intensidade e a frequência desses
episódios. O limite entre normalidade e TOC é muito tênue;
* Os pais não devem colaborar com a perpetuação das manias e rituais dos
filhos. Devem ajudá-los a enfrentar os pensamentos obsessivos e a lidar com a
compulsão que alivia a ansiedade;
* O respeito a rituais do portador de TOC pode interferir na dinâmica da família
inteira. Por isso, é importante estabelecer o diagnóstico de certeza e
encaminhar a pessoa para tratamento;
* Esconder os sintomas por vergonha ou insegurança é um péssimo caminho.
Quanto mais se adia o tratamento, mais grave fica a doença.
As obsessões mais comuns
As obsessões mais comuns são os medos de
contaminação e a preocupação com germes/sujeira, as dúvidas sobre a
possibilidade de falhas e a necessidade de ter certeza.
Também são comuns
pensamentos, impulsos ou imagens indesejáveis e perturbadores de conteúdo
violento ou agressivo (ferir ou agredir outras pessoas), sexual (molestar uma
criança, dúvidas sobre a orientação sexual) ou blasfemo (ofender a Deus);
pensamentos supersticiosos relacionados a números, cores, datas ou horários;
preocupação em que as coisas estejam alinhadas e simétricas ou no lugar
"certo" e preocupações excessivas por armazenar, poupar ou guardar
coisas inúteis .
Obsessões em outros transtornos mentais
As hesitações mais comuns
As hesitações mais comuns são as relacionadas com
o medo de contaminação por germes e bactérias, de contrair doenças, ou
simplesmente por nojo. Exemplos: evitar banheiros públicos, usar lenço ou papel
para tocar nos objetos, usar luvas para cumprimentar as pessoas, não tocar e
nem chegar perto de certas pessoas, não tocar ou encostar a roupa em objetos
usados por outras pessoas como dinheiro, maçanetas, pegador do ônibus,
corrimãos. Caso a pessoa toque nesses objetos ou encoste a roupa em geral
precisa lavar as mãos ou trocar de roupas depois.
As hesitações podem ainda estar associadas a medos
de natureza supersticiosa (não usar uma roupa de uma determinada cor, não fazer
nada em determinada data ou em determinado horário para não acontecer uma
desgraça no futuro), a pensamentos de conteúdo violento ou sexual inaceitável
(desviar de pedestres por medo de agredi-los, evitar pegar um bebê no colo em
razão do pensamento de atirá-lo pela janela; não chegar perto de crianças em razão
de pensamento de molestá-las).
Como as hesitações contribuem para perpetuar o TOC
Acredita-se que os comportamentos
evitativos contribuam para aumentar a frequência e a saliência das obsessões
por dois motivos: 1)obrigam o indivíduo a estar permanentemente vigilante sobre
os objetos, pessoas ou situações que provocam as obsessões;
2) impedem o
contato, o enfretamento e a exposição aos medos obsessivos e o desaparecimento
natural da ansiedade e dos medos que ocorre quando se entra em contato de forma
repetida com as situações que os provocam (medos de altura, de pequenos
animais, de insetos). As evitações contribuem para a persistência dos medos
pois impedem o indivíduo cosntatar que suas crenças são erradas e,
portanto, de modifica-las. Desta forma as evitações concorreriam fortemente
para a manutenção dos medos obsessivos.
A ciência tem conseguido esclarecer vários fatos
em relação ao TOC embora não consiga ainda identificar suas verdadeiras causas.
Provavelmente concorrem vários fatores para o seu aparecimento: de natureza
biológica envolvendo a predisposição genética, alterações funcionais e da
neuroquímica cerebrais, e fatores psicológicos como aprendizagens de formas
erradas de lidar com medos e ansiedades, como por exemplo, fazer rituais para
livrar-se de uma aflição ou evitar o contato com objetos, pessoas ou situações
que provocam medos, em vez de enfrentá-los. Também está bem estabelecido que os
indivíduos com TOC cometem erros na forma de perceber e interpretar a realidade
(exagerar o risco e a responsabilidade, dificuldade de conviver com a
incerteza, exagerar as consequências de cometer ou ser responsável por uma
falha, acreditar no poder do pensamento, etc.), que acabam contribuindo
para o surgimento e a persistência dos sintomas obsessivo compulsivos.
FATORES BIOLÓGICOS
Sintomas obsessivo compulsivos em doenças neurológicas
É de longa data a observação de que sintomas OC
podem ocorrer depois de traumatismos , derrames ou acidentes
vasculares cerebrais em certas regiões do cérebro. Também foram descritos
associados a uma variedade de doenças neurológicas como encefalites, doença de
Parkinson, em quadros neuropsiquiátricos associados a infecções pelo
estreptococo beta hemolítico como a febre reumática, a Coreia de Sydenham,
a um grupo de transtornos neuropediátricos da mesma forma associado a
infecções pelo estreptococo e denominados de PANDAS. É comum ainda a
associação de TOC com tiques e a Síndrome de Tourette.
Medicamentos que ativam a função serotonérgica reduzem os sintomas TOC
Existem evidências bastante consistentes de um
papel importante de um neurotransmissor – a serotonina na modulação dos
sintomas TOC. Medicamentos que inibem a recaptação da serotonina pelo neurônio
aumentando a disponibilidade desse neurotransmissor na fenda sináptica e
incrementam neurotransmissão nas vias nervosas serotonérgicas,reduzem os
sintomas TOC e são antiobsessivos: reduzem os sintomas do TOC. São eles: a
clomipramina, a fluoxetina, a paroxetina, a sertralina, o citalopram,
escitalopram e a fluvoxamina. Mais recentemente tem sido sugerido que a
dopamina e o glutamato também exerçam algum papel no TOC, o que não está
esclarecido.
Medicamentos que provocam os sintomas TOC
Outras evidências da participação da neuroquímica
cerebral no TOC advém de relatos de caso que associam o aparecimento de
sintomas TOC com o uso de várias substâncias, inclusive de medicamentos
psiquiátricos, como risperidona, clozapina, olanzapina, quetiapina e o
topiramato. Esses medicamentos são usados atualmente no tratamento de
pacientes com esquizofrenia e com transtorno do humor bipolar.
Curiosamente alguns deles tem sido utilizados para potencializar o efeito dos
antiobsessivos, como a risperidona e a quetiapina. Os sintomas TOC também foram
observados durante o uso do interferon no tratamento da hepatite C e do
melanoma maligno.
Mudanças na fisiologia cerebral
Técnicas como a tomografia computadorizada por
emissão de fóton único (SPECT), tomografia por emissão de pósitrons (PET) e, em
especial, a ressonância magnética funcional (RMf) possibilitaram a visualização
do cérebro em funcionamento. Permitiram também comparar o metabolismo cerebral
de indivíduos com TOC, com aqueles que não apresentam a doença
(controles), em situações de provocação dos sintomas (por exemplo: solicitando
que tocassem em coisas contaminadas), antes e depois do tratamento com
medicamentos ou com terapia. Esses estudos em sua maioria apontam para um
aumento do fluxo sanguíneo e portanto da atividade cerebral em indivíduos com
TOC no córtex orbito-frontal (OFC) e em regiões mais profundas do cérebro, nos
chamados de gânglios basais, em comparação com os controles. Esta
hiperatividade tende a se normalizar tanto com o tratamento farmacológico como
com a terapia cognitivo-comportamental. No entanto nem todos os pacientes com
TOC apresentam essa hiperatividade ou a sua diminuição com o tratamento.
Genética e o TOC
As evidências de uma predisposição genética para
o TOC advém da constatação de um risco aumentado para a ocorr6encia do
transtorno em familiares de indivíduos com TOC e, sobretudo, em gêmeos
monozigóticos. O risco de familiares de primeiro grau de indivíduos acometidos
pelo TOC de apresentarem o transtorno aumenta 4 a 5 vezes em comparação
com a população em geral. O risco é mais elevado especialmente quando o TOC é
de início precoce e quando a manifestação (dimensão) predominante é o
colecionismo, mas a natureza da alteração genética, os genes envolvidos e o
mecanismo de sua transmissão ainda não foram esclarecidos.
FATORES PSICOLÓGICOS: APRENDIZAGENS E CRENÇAS ERRADAS
Existem evidências bastante consistentes para a
participação de fatores psicológicos na origem e, sobretudo, na manutenção do
TOC. Uma das evidências de maior peso é o fato de os sintomas TOC poderem ser
eliminados através de meios psicológicos: as terapias de exposição e prevenção
de rituais bem como através de técnicas cognitivas que em conjunto constituem a
terapia cognitivo comportamental (TCC). A eficácia desses tratamentos de
natureza psicológica, é no mínimo semelhante à dos medicamentos, e para alguns
sintomas, como as compulsões é superior.Ao redor de 70% dos pacientes tratados
com TCC melhoram dos sintomas obsessivo compulsivos e muitos deles podem
ter remissão completa, com o uso portanto, de meios exclusivamente psicológicos.
Certas estratégias como realizar compulsões,
evitar o contato com objetos ou situações que representam ameaças
provocam alívio da ansiedade e do desconforto e são utilizadas por
praticamente todos os indivíduos que apresentam TOC. Acredita-se que o alívio
obtido por tais estratégias contribua para a manutenção dos sintomas (reforça)
e impede o seu desaparecimento natural. Essa é uma aprendizagem errada, que
contribui para perpetuar o TOC.
Pacientes com TOC costumam perceber, avaliar e
interpretar a realidade de forma negativa ou catastrófica. Eles tendem a
supervalorizam a gravidade dos riscos e das ameaças (pode-se contrair AIDS
usando um banheiro público) e as possibilidades de ocorrerem eventos
desastrosos como contrair doenças, perder familiares, ou a casa incendiar, se
não fizerem certos rituais. Tendem a superestimar a própria responsabilidade
quanto a provocar ou prevenir eventos negativos futuros - acreditam que uma
ação pode influenciar o futuro (por exemplo: alinhar os chinelos ao pé da cama
vai impedir que aconteça algo de ruim para um familiar). São perfeccionistas,
preocupando-se exageradamente em fazer as coisas bem feitas e em evitar
possíveis falhas ou imperfeições. Acreditam que pensar num determinado fato
aumenta as probabilidades de que aconteça (pensar num acidente aumenta a chance
de acontecer) ou ainda, de que ter um determinado pensamento inaceitável
(violento, sexual impróprio) equivale a praticá-lo. Embora não específicas do
TOC essas crenças parecem ter um papel importante na modulação da
intensidade dos sintomas OC.
Em resumo: evidências consistentes fazem supor
que para o surgimento e a manutenção do TOC concorram diversos fatores, e em
diferentes graus, que englobam desde uma predisposição genética, alterações
funcionais cerebrais, aprendizagens e crenças erradas adquiridas na interação
com o ambiente ao longo da vida, especialmente na infância e adolescência.
Os tratamentos mais efetivos que se tem para o
TOC são medicamentos inicialmente utilizados no tratamento da depressão,
que posteriormente se descobriu serem efetivos também no TOC, e a terapia
cognitivo comportamental (TCC) que inclui exercícios de exposição e abstenção
de executar rituais (prevenção da resposta).
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