COMPULSIVOS..
Muita
gente imagina que os comportamentos compulsivos estão apenas associados a
drogas como álcool, maconha, cocaína e nicotina, por exemplo. De fato,
dependentes de droga manifestam esse tipo de comportamento, mas a compulsão não
está relacionada exclusivamente com o uso de substâncias químicas. Pode estar
ligada a outras situações que provocam prazer, como fazer compras ou passar horas
em frente do computador. Quem não conhece pessoas que compram compulsivamente,
estouram o limite do cartão de crédito, do cheque especial e a conta no banco
de uma forma deletéria para si mesmas. Quem não tem notícia de gente que
permanece horas em frente do computador e se esquece de comer, de falar com os
amigos, de prestar atenção nos filhos. Esses comportamentos, tanto quanto os
relacionados com o uso de drogas, interferem com o mecanismo de prazer e podem
adquirir características patológicas, de certa forma incontroláveis.
CARACTERÍSTICAS
DO COMPORTAMENTO COMPULSIVO
O
comportamento compulsivo se caracteriza por uma pressão interna que, em
determinadas situações, faz com que a pessoa se sinta impelida, tomada por
desejo muito forte de realizar uma ação que gera prazer principalmente nos
estágios iniciais, mas que depois provoca sentimento de culpa e mal-estar.
Como se
distingue um comportamento patológico do comportamento normal da pessoa que vai
às compras?
Com base
em estudos americanos, o comprar compulsivo só passou a ser tratado como doença
recentemente. Considera-se que uma pessoa é compradora compulsiva quando, em
determinado momento, começa a contabilizar prejuízos financeiros, pessoais e de
relacionamento provocados pelo descontrole nas compras. Embora as pesquisas
mostrem que quase todo o mundo, de vez em quando, compra por impulso, porque
comprar por impulso faz parte da natureza humana, o comprador compulsivo não
cede a essa pressão eventualmente. Cede sempre, em especial se estiver dominado
por sentimentos negativos, entristecido, com baixa autoestima e dificuldade de
relacionamento. Em geral, são mulheres que vão ao shopping e começam a
comprar sem controle. Às vezes, saem de casa pensando em adquirir determinado
produto, mas entram nas lojas e não resistem ao apelo de comprar outras coisas.
O interessante é que não compram só para si. Se a abordagem do vendedor for
eficiente, sairão da loja carregadas de presentes e, quando alguém reclama que
estão gastando muito dinheiro, argumentam “Não seja ingrato. Você se esquece de
quantos presentes lhe comprei”.
Na
verdade, os shoppings favorecem esse tipo de comportamento pelo número e
diversidade de lojas que oferecem agrupadas num mesmo espaço. Além disso,
contar com cartões de crédito e poder parcelar os pagamentos funcionam como
atração e incentivo para novas compras.
COMPULSÃO
NOS DOIS SEXOS
Observa-se
que de 90% a 95% dos compradores compulsivos são mulheres. Alguns estudos
mostram que elas têm a chamada dependência de shopping center, caracterizada
por problemas com compras, com comida e cleptomania, uma vez que também fazem
pequenos furtos. Os comportamentos compulsivos dos homens estão mais ligados à
adição de álcool, de drogas e ao sexo. Essa diferença provavelmente pode ser
atribuída a aspectos culturais, pois biologicamente não teríamos como
explicá-la, já que toda a ação ou fisiopatologia da doença está associada ao
circuito da recompensa que, em teoria, é igual nos dois sexos.
Por outro
lado, vários países que estudam o comportamento dos adolescentes no que se
refere ao uso de drogas lícitas ou ilícitas verificaram que, nesse campo, o
comportamento de homens e mulheres está ficando muito parecido, o que pode
reforçar a hipótese de tratar-se de uma questão mais cultural do que
propriamente biológica.
CIRCUITO
CEREBRAL DE RECOMPENSA
Já está
demonstrado que existe no nosso cérebro um circuito de recompensa, na verdade
uma estrutura bastante rudimentar que, de alguma forma, está presente também
nos outros animais, por exemplo, nos ratos, e que vai mediar nossa relação com
situações de prazer, como fazer sexo, ir às compras, comer uma comida gostosa
ou encontrar uma pessoa querida que não víamos há muito tempo. Sabe-se também
que, dependendo do grau de prazer que determinada situação gerou, esse circuito
é estimulado em diferentes níveis. Certos comportamentos e algumas substâncias
conseguem fazê-lo de uma maneira que dificilmente seria possível ocorrer na
vida cotidiana. É muito difícil dimensionar o grau de prazer experimentado
pelos dependentes se o compararmos com o de uma pessoa comum. Talvez seja isso
que, depois de algum tempo, os faça declarar que nada mais lhes traz prazer
além do sexo, da cocaína ou das compras, por exemplo. Existe uma alteração no
cérebro ligada à liberação de um neurotransmissor chamado dopamina, que é
responsável pela sensação de prazer. Ele faz com que a pessoa, por
susceptibilidade biológica ou sociocultural, ao entrar em contato com
determinado comportamento ou substância, associe tal estímulo ao prazer e
bem-estar que está sentindo e que foi provocado pela maior liberação desse
neurotransmissor. No entanto, quando se repete muito tal comportamento ou o uso
da droga, a ação da dopamina se esgota, se esvazia rapidamente, a pessoa se
sente mal e precisa repetir com mais frequência o estímulo externo para manter
minimamente os níveis de dopamina no sistema cerebral de recompensa.
A
pessoa que vai fazer compras sabe que depois vai sentir-se mal
O
interessante é que só recentemente se conseguiu demonstrar que não são apenas
as substâncias químicas que atuam nos circuitos cerebrais da recompensa.
Compras, jogos patológicos, sexo, comida ou mesmo o uso exagerado do computador
representam comportamentos capazes de agir sobre eles. No caso do comprador
compulsivo, o fenômeno é muito parecido com o provocado pelas drogas. A pessoa
se ilude com a sensação de que vai ao shopping não para comprar, mas para ver
vitrines, ir ao cinema ou levar o filho. Como o usuário de cocaína que acha que
pode ir a uma festa, mas jura que não vai usar drogas ou vai usar só um
pouquinho, ela fica brigando consigo mesma – “Vou conseguir frequentar o
shopping sem me endividar” -, mas não resiste sequer ao primeiro apelo.
Os
comportamentos compulsivos são estimulados pela facilidade de acesso à
substância, no caso, o acesso às compras. Do mesmo jeito que numa festa a
simples visão da cocaína pode liberar desejo incontrolável ou fissura, exposta
a uma situação de compra, a pessoa tem as mesmas reações.
FATORES
DE RISCO
Teoricamente,
quem corre maior risco são as mulheres de classe média ou média alta, faixa
socioeconômica com maior disponibilidade de dinheiro para gastar. Pagas as
contas do dia a dia, sobra-lhes sempre uma quantia para ser usada em recreação,
lazer, compras, etc. Discute-se se boa parte dessas mulheres são filhas de pais
que trabalhavam muito e ficavam ausentes por longos períodos, deixando em suas
mãos, quando meninas, dinheiro disponível precocemente. Assim, aos 16 ou 17
anos, idade em que começaram a sair sozinhas, criaram hábitos, entre eles o de
compras, que incluem gastos excessivos.
COMORBIDADES
Na área
da dependência e compulsão são comuns os casos de comorbidade. Estudos mostram
que de 60% a 70% das mulheres com compulsão por compras apresentam sintomas
depressivos e número um pouco menor, depressão clínica propriamente dita. Outra
doença frequentemente associada aos compradores compulsivos é a distimia, uma
depressão crônica mais leve do que a depressão clínica. É evidente que pessoas
com sintomas depressivos, às vezes por anos, quando descobrem que o fato de
irem às lojas para fazer compras melhora seu ânimo, desenvolvem compulsão nem
tanto pelo prazer de possuir um objeto em si, mas porque são paparicadas pelo
vendedor dentro de uma loja bonita e num ambiente agradável. O bem-estar que
sentem nesses momentos é descrito quase como um orgasmo. Interessante é que
muitas, mal saem da loja, começam a cair na real e veem que deram mais um
cheque ou assumiram mais uma dívida no cartão de crédito e não levam os objetos
que adquiriram para casa ou, se levam, escondem-no do marido (a maioria é
casada) ou não desfazem os pacotes.
Em
geral, na faixa dos 39, 40 anos, quando os maridos atingiram certa estabilidade
financeira. As feministas não gostam dessa interpretação. Dizem que hoje em dia
as mulheres trabalham e ganham dinheiro para arcar com as despesas e os
pagamentos de suas compras.
COMPUTADORES
E INTERNET
Essa é
uma área que vem chamando muito a atenção e acredito que chegou a hora de
discutir o assunto aqui no Brasil. Só agora se está tentando estabelecer uma
legislação que oriente o funcionamento das lan houses, casas que
crianças, adolescentes e adultos podem frequentar e onde jogam em rede, em
geral, jogos de estratégia, de guerra. Em 2002, havia 500 casas dessas no
Brasil. Em 2003, esse número gira em torno de três mil, ou seja, estão abrindo lan
houses em cada esquina, sem regra nenhuma que norteie seu funcionamento,
não importa se em frente de escolas, faculdades ou próximas a lugares
frequentados por crianças. Existem até certos empreendimentos imobiliários que
se valem da instalação desses equipamentos no condomínio como propaganda de
venda e escolas que se gabam de oferecer um computador por criança.
Na
verdade, o estímulo para que as pessoas usem o computador é imenso e aí entra a
questão da comorbidade. Ou seja, pessoas com alguma dificuldade de
relacionamento social, fóbicas, tímidas demais ou com quadros depressivos, em
contato com o computador, acabam abusando de seu uso o que acarreta prejuízos
em sua vida social, financeira e até profissional. Muitas perdem o emprego,
porque se aproveitam de que o trabalho requer o uso do computador para
despender tempo com jogos, e-mails, internet ou até mesmo visitando sites de
pornografia.
De certa
forma, o computador é uma experiência nova na vida de muitas pessoas. Para
estabelecer alguns limites quanto ao uso desse equipamento, os pais precisam
entender como ele funciona. Há uma charge que mostra bem a situação atual.
Nela, o pai diz ao filho: “Me mostra como isso funciona, para eu dizer o que o
que você pode fazer”. Não são poucos os adultos que ainda estão engatinhando no
manuseio do computador, enquanto as crianças cada vez mais precocemente
aprendem a manejá-lo.
É bom,
desde que haja um filtro, porque não se conhecem ainda as consequências dessa
abertura total, nem se sabe em que idade o contato com o computador deveria
acontecer. Será que uma criança de três anos, que aprende a brincar com
joguinhos, às vezes educativos, e passa a tarde toda no computador, porque os
pais estão trabalhando e a empregada entretida com seus afazeres, não se
tornará um usuário compulsivo? Hoje, o computador substituiu a televisão no
papel de babá eletrônica. Só que a televisão não é interativa. Num determinado
momento, o espectador se cansa e vai embora. O computador, ao contrário, é
interativo e prende muito mais a atenção.
ORIENTAÇÃO AOS PAIS
Os
pais devem estabelecer um tempo para os filhos ficarem diante do computador.
Dependendo da idade pode ser de uma hora, mas nunca deve ultrapassar três
horas. E não é só por causa do risco de adição. Problemas de postura e
obesidade já têm sido associados ao uso excessivo do computador. É triste
dizer, mas três mortes de adolescentes na Coreia foram atribuídas a esse uso.
Os jovens tinham permanecido na lan house durante 48 horas sem comer e
sem dormir e só se afastavam do computador para ir ao banheiro. Provavelmente,
eles já apresentavam alguma patologia de base que os deixava mais vulneráveis,
mas o fato é que faleceram de exaustão. Em algumas dessas lan houses,
existem as sessões coruja e a oferta de um pacote promocional para o usuário
passar a noite toda no computador, gastando muito pouco e não são muitas as que
proíbem a entrada de menores. Felizmente, no final de 2003, foi aprovada pela
Câmara Municipal uma lei que obriga a apresentação de uma carta dos pais
autorizando o filho a passar a noite nesses estabelecimentos.
Em geral,
as pessoas começam a queixar-se de que estão usando o computador de forma
nociva já adultas. Se imaginarmos que a internet apareceu no início da década
de 1990, pode-se dizer que elas não eram muito crianças quando se interessaram
por ele. No entanto, quem nasceu depois dessa data, já nasceu na era da
internet. Consequentemente, a tendência é o número de casos de dependência
aumentar, especialmente porque nas famílias mais ricas cada criança tem à
disposição um computador no quarto e, em vez de brincar com os amigos, fica
trancada em casa batendo papo pela internet. A propósito, nos Estados Unidos,
foi realizado um estudo muito interessante. Os pesquisadores acompanharam por
seis meses pessoas que fizeram a matrícula num provedor. A conclusão foi que
quanto mais horas ficavam plugadas na internet, mais sintomas de depressão ou
mais dificuldade de estabelecer relacionamentos, que eles chamam de sérios,
apresentavam. Portanto, já existem evidências de que ficar muito tempo na
internet pode gerar problemas na esfera social do comportamento.
TRATAMENTO
No que se
refere às compras, há estudos sobre o assunto e uma experiência clínica maior.
Em primeiro lugar, lida-se com a questão comportamental, restringido as
oportunidades de acesso às compras como se faz com as drogas. Como medida
inicial, procura-se reduzir e, às vezes, suspende-se totalmente o montante de
dinheiro que chega às mãos dessas pessoas. Tenho uma paciente que, por causa
disso, me chama de Collor e a sua mãe de Zélia, pois impedimos que tenha
dinheiro à disposição, caso contrário, perderia o controle e sairia fazendo
compras por aí. O objetivo dessa proposta de tratamento é fazer com que a
pessoa aprenda a viver com o que ganha e a respeitar um orçamento. Pedimos que,
nesse período, tente afastar-se dos shoppings e deixe de usar cartões de
crédito e talões de cheque. Quanto mais pagar as compras com papel moeda,
melhor. Se quiser comprar um sapato, por exemplo, pelo qual se dispõe a pagar
R$ 50,00, sairá de casa levando essa quantia e talvez um pouquinho mais para
tomar um lanche. O problema é que, em geral, as pessoas se sentem de certa
forma humilhadas porque possuem médio ou alto poder aquisitivo, não lhes falta
dinheiro, mas são tratadas como crianças. Existem alguns estudos com
medicamentos antidepressivos para controle da compulsão por compras, mas sempre
fica a dúvida sobre sua verdadeira eficácia. Uma das drogas é o Citalopran, um
antidepressivo que vem sendo submetido a testes, inclusive comparando seu
efeito com o do placebo, e que parece diminuir a compulsão pelas compras. Isso
sugere que se pode associar medicação e terapia comportamental. Nos casos de
uso abusivo do computador, não existem estudos – pelo menos que eu conheça –
sobre a ação dos antidepressivos. Por isso, o tratamento é basicamente
comportamental a fim de tentar impedir o acesso fácil e ilimitado do usuário.
É em casa
que o usuário compulsivo de computador enfrenta a primeira dificuldade, pois
vai deixando de atender o chamado para o jantar, não respeita a hora de dormir
ou de cumprir as tarefas domésticas, não conversa com a esposa nem dá atenção
aos filhos. É sempre interessante avaliar como o computador está inserido nas
atividades do dia a dia e medir as horas não essenciais dedicadas a seu uso,
desprezando o tempo dedicado ao trabalho, ao estudo ou em busca de informações.
Nos casos de usuários compulsivos, verifica-se que esse tempo gira em torno de
27 a 30 horas semanais, ou seja, de três a quatro horas por dia. Ora, se
pensarmos que a pessoa chega em casa às sete, oito horas da noite, de fato não
lhe sobra muito tempo para a vida em família.
Com as
crianças talvez seja mais fácil controlar esse uso. O pai estabelece horários,
desliga o computador ou proíbe seu uso indiscriminado.
Como se faz esse
controle com os adultos?
Uma
senha, por exemplo, pode resolver o problema com a criança. Com o adulto é
preciso conversar. Já recebi o filho de um senhor aposentado, com mais ou menos
70 anos, que aprendeu a mexer no computador e estava se descuidando da saúde
por causa disso. O computador tem um aspecto muito atraente. Atrás dele a
pessoa pode ser quem quiser. O homem mais velho, por exemplo, pode conversar
com garotas, dizendo ter 25 anos e uma aparência muito diferente da que
realmente tem. Há até quem mande pela Internet fotos de outras pessoas como se
fossem suas alimentando essas fantasias.
Muitas
pessoas questionam se o problema é o computador ou se o acesso que dá à
pornografia, por exemplo, só interessa às pessoas que já têm distúrbios
sexuais. No que se refere aos jogos, qualquer um pode entrar em sites de
cassinos e jogar livremente. Basta declarar que tem 18 anos, pois ninguém vai
conferir a informação. E não são só casos como esses. Há uma infinidade de
comportamentos compulsivos associados ao uso do computador. Tive uma paciente
que quase não conseguia levantar-se da cadeira, na expectativa de que pudesse
chegar um novo e-mail para ela. Outro aspecto importante para a adesão ao
computador é a velocidade com que se processam as informações. Eu tinha um
modelo 486. Ligava e podia ir ao banheiro sossegado, porque ele demorava muito
para abrir. Hoje, os equipamentos permitem que se abra uma página atrás da
outra rapidamente, o que provoca sensação de euforia, bem-estar e libera
adrenalina.
Pessoas
ansiosas ou inquietas, às vezes, não aguentam esperar se o computador estiver
lento. De certa forma, o mundo moderno empurra as pessoas para os
comportamentos compulsivos. Não é só o computador mais veloz. É o cartão de
crédito, são os cheques pré-datados, a propaganda e as cores das lojas, tudo
estimula o desenvolvimento da compulsão.
Por
que ocorrem Comportamentos Compulsivos?
Não há uma causa bem estabelecida para a ocorrência de Comportamentos Compulsivos. Pode-se falar em vulnerabilidades e predisposições, seja de elementos familiares, tais como os hábitos conseqüentes à extrema insegurança e aprendidos no seio familiar, seja por razões individuais e relacionados às vivências do passado e a ao dinamismo psicológico pessoal, seja por razões biológicas, de acordo com o funcionamento orgânico e mental.
Assim, Comportamentos
Compulsivos ou Aditivos podem ser entendidos como
atitudes (mal-adaptadas) de enfrentamento da ansiedade e/ou angústia, trazendo
conseqüências físicas, psicológicas e sociais graves. Algumas pessoas
apresentam comportamentos com caráter compulsivo, que levam a conseqüências
negativas em suas vidas, como por exemplo, recorrer ao uso abusivo do álcool,
das drogas, à fuga do convívio social, ao hábito intempestivo do vômito e às
mais variadas atitudes.
Essas
pessoas podem ainda comprar compulsivamente, sem levar em conta o saldo
bancário, comer compulsivamente, mesmo quando não se tem fome, jogar, praticar
atividades físicas em excesso, etc.
Quais
as complicações dos Comportamentos Compulsivos?
Normalmente nesse tipo de problema, classificados aqui sob o título de Transtornos do Espectro Obsessivo Compulsivo, a pessoa acaba se tornando dependente dessas atitudes, as quais ocupam um espaço importante em seu cotidiano. Em alguns casos ocorrem-se danos físicos, como na pessoa com Vigorexia, que precisa malhar (exageradamente) todos os dias e por longas horas, ou lesões na pele das mãos devido aos rituais de lavar continuadamente, ou auto-escoriações, calvície devido à Tricotilomania, ou desnutrição quando a compulsão é por vômitos (Bulemia) e assim por diante.
Normalmente
essas pessoas sentem desconforto emocional se não realizarem tais
comportamentos, sentem grande angústia ou ansiedade na ausência ou na
impossibilidade em realizar a atividade compulsiva. Socialmente, a ocorrência
de tais comportamentos pode resultar em prejuízo no trabalho, na conclusão de
tarefas, na liberdade em sair de casa, ou vergonha no contacto com
outras pessoas, etc.
A
repetição desses comportamentos e o aumento gradual da freqüência deles acabam
caracterizando um verdadeiro processo de dependência. Alguns buscam alívio
da angústia e ansiedade, ou afastamento de pensamentos incômodos através
da realização de comportamentos compulsivos. Quando se pretende a busca do
prazer pode haver adicção química, que é o consumo exagerado de substâncias.
Didaticamente
podemos dizer que existe uma grande semelhança entre Comportamentos
Compulsivos e dependência química. Observamos semelhança entre a
angústia provocada pela ausência, tanto do Comportamentos
Compulsivos quanto das substâncias, ou seja, semelhança
dos sintomas emocionais da abstinência, tais como tremores, sudorese,
taquicardia, etc, bem como o caráter compulsivo e repetitivo, ou a importância
que essas atitudes ocupam na vida da pessoa, ainda sobre o comprometimento na
qualidade da vida familiar, profissional, afetiva e social. É assim que, por
exemplo, que o comportamento do jogo compulsivo (ou patológico) tem
praticamente a mesma motivação que o uso da droga, ou do álcool, da cocaína e
outras substâncias psicoativas.
Quando
os Comportamentos Compulsivos precisam de tratamento?
Normalmente os Comportamentos Compulsivos precisam de tratamento quando têm como conseqüências, prejuízos significativos à vida da pessoa ou ao seu entorno sócio-familiar.
Normalmente os Comportamentos Compulsivos precisam de tratamento quando têm como conseqüências, prejuízos significativos à vida da pessoa ou ao seu entorno sócio-familiar.
Tipos
de Comportamentos Compulsivos
1 - Jogar Compulsivo (ou Patológico)
Segundo a CID.10, a característica essencial do Jogo Patológico é um comportamento de jogo mal adaptativo, recorrente e persistente, que perturba os empreendimentos pessoais, familiares e/ou ocupacionais. A pessoa com esse transtorno pode manter uma preocupação com o jogo, tais como, planejar a próxima jogada ou pensar em modos de obter dinheiro para jogar.
Está
sempre na expectativa de ganhar, como foi conseguido anteriormente. Existe
ainda uma sensação especial no comportamento de risco, o que ocupa a mente do
jogador fazendo que passe a repetir o comportamento (dependência).
O jogo
pode tornar-se uma grande fonte de prazer, podendo vir a ser a única forma de
prazer para algumas pessoas. O jogador compulsivo costuma se tornar
inconseqüente, gastando aquilo que não tem, perdendo a noção de realidade. A
síndrome de abstinência pode estar presente.
2 - Atividade Física Compulsiva (Vigorexia)
A
escravização que as pessoas das sociedades civilizadas se submetem aos padrões
de beleza tem sido um dos fatores sócio-culturais associados ao incremento da
incidência do Comportamento Compulsivo para a prática de
exercícios.
É
cultural que o ser humano moderno esteja moderadamente preocupado com seu
corpo, porém, sem que essa preocupação se converta numa obsessão. Por outro
lado, alguns complexos de feiúra ou de estar em desacordo com os padrões
desejáveis podem levar à obsessão pela beleza física e perfeição.
A Atividade
Física Compulsiva deve ser considerada um transtorno do espectro
obsessivo-compulsivo, tanto pela obsessão em musculatura, pela compulsão aos
exercícios e ingestão de substâncias que aumentam a massa muscular, quanto pela
fragrante distorção do esquema corporal que essas pessoas experimentam.
3 - Comprar Compulsivo (Shopholic)
Assim como os demais Comportamentos Compulsivos ou Aditivos, o comprador compulsivo é, praticamente, um dependente do comportamento de comprar, precisando fazê-lo sem limites para se sentir bem, pelo menos bem naquele momento (para depois arrepender-se).
Entretanto,
é fundamental fazer a diferença entre o simples hábito pelas compras do Comportamento
Compulsivo às Compras. "Os hábitos de consumo são mais
emocionais que racionais", afirma Dílson Gabriel dos Santos,
que leciona Comportamento do Consumidor na USP. O professor esclarece que
comprar por impulso, mas não por compulsão, é adquirir um bem por sentir uma
atração instantânea pelo produto, seja por causa da embalagem, do preço ou do
apelo publicitário.
Essas
pessoas impulsivas pelas compras cometem as "... pequenas loucuras que
se cometem ao passar pelas gôndolas de supermercados", diz. "Leva-se
uma garrafa de bebida, um iogurte ou um pacote de biscoitos a mais",
observa. Já o compulsivo vai às compras como um viciado que sai de casa para
jogar ou em busca das drogas, e a Compulsão acaba sendo uma atitude que exclui
logo o prazer pela aquisição do novo produto.
4 - Trabalhar Compulsivo (Workaholic)
Com o
objetivo de vencer profissionalmente, ganhar dinheiro, sobressair-se
socialmente, tem sido glorificado pelo sistema cultural que a pessoa procure
dar o melhor de si trabalhando.
Na compulsão
pelo trabalho a pessoa vai de casa para o trabalho, do trabalho para a
casa, excluindo-se de sua vida as opções do lazer, as pausas nos finais de
semana, o convívio descontraído com a família, etc.
A pessoa
com compulsão pelo trabalho freqüentemente exige dos outros o
mesmo ritmo que tem para si, costuma criticar demais esses outros, exige
perfeição, dedicação e devoção ao trabalho, tal como elas próprias se
comportam. E o próprio Compulsivo para o Trabalho sofre com sua
situação.
Normalmente
são pessoas severas, isoladas, inflexíveis, perfeccionistas, amargas e
exageradamente “realistas”. Por causa dessas características os workaholics
racionalizam tudo na vida, ocultam seus próprios sentimentos, têm um contato
mínimo com eles próprios e mantêm abafados seus conflitos íntimos.
Para
essas pessoas o trabalho é seu escudo protetor e, melhor que isso, trata-se de
uma atitude fortemente enaltecida pelos valores sociais. Mas, na realidade, o
workaholic também sofre, normalmente é um insatisfeito consigo mesmo, alimenta
a fantasia de ser potente e meritoso. Na verdade, toda essa voracidade para o
trabalho pode estar aliviando sentimentos de angústia por se acreditar um pai
omisso ou uma mãe ausente, um companheiro fugidio, etc.
5 - Transtornos Alimentares; Comer Compulsivo (Binge-Eating)
Os Transtornos Alimentares constituem uma verdadeira "epidemia" que assola sociedades industrializadas e desenvolvidas acometendo, sobretudo, adolescentes e adultos jovens. Vivemos em uma sociedade na qual existe o culto da magreza. Assim, comer, um comportamento universalmente tido como prazeroso, torna-se alvo de preocupação de muitas pessoas. Como usufruir deste prazer sem sentir-se fora dos padrões sociais de saúde e beleza?
Essa
"epidemia" se multiplica numa população patologicamente preocupada
com a perfeição do corpo e que está sendo afetada por alterações psíquicas
caracterizadas por distúrbios na representação pessoal do esquema corporal. Os
Transtornos Alimentares vêem aumentando sua incidência perigosamente e já
começa a alarmar especialistas médicos, sociólogos, autoridades sanitárias.
Essa
busca obsessiva da perfeição do corpo tem várias formas de se manifestar e,
algumas delas, diferem notavelmente entre si. Existem os Transtornos
Alimentares mais tradicionais, que são a Anorexia e Bulimia
nervosas mas, não obstante, existem outros que se estimulam e desenvolvem na
denominada "cultura do esbelto" (veremos abaixo).
Todos
estes Transtornos Alimentares compartilham alguns sintomas em
comum, tais como, desejar uma imagem corporal perfeita e favorecer uma
distorção da realidade diante do espelho. Isto ocorre porque, nas últimas
décadas, ser fisicamente perfeito tem se convertido num dos objetivos
principais (e estupidamente frívolos) das sociedades desenvolvidas. É uma meta
imposta por novos modelos de vida, nos quais o aspecto físico parece ser o
único sinônimo válido de êxito, felicidade e, inclusive, saúde.
FONTE Drauzio Varella
Adriani Gonçalves
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